Desde aquele dia que nunca mais vi as estrelas-semáforo,
quando olho para o céu. Não sei se sou eu que as evito ou elas a mim. De
qualquer forma, vê-las, ia tornar real coisas que , para o momento, prefiro
negar como verídicas. De momento, nem
sei se devia estar a escrever sobre a minha falta de visão, ou se devia de
estar a escrever sobre coisa alguma, nada me sai como quero e ultimamente o meu
esforço para escrever sai pior que uma poça de lama, isto, sem querer descurar
a beleza de uma poça de lama. Mas foste tu que me disseste para escrever, mesmo
quando as minhas palavras não fazem sentido. E não fazem. Muito menos as minhas
ideias. Estou a escrever a cru, com linhas que não as minhas, com pensamentos
meus.
Acho que elas foram a outra festa, sabes ? Talvez, a Plutão,
não sei. Não se iam esconder de mim, pois não ? Ou sou eu que não as quero
procurar, com medo de as ver ? Não, de certeza que foram a uma festa… Ias tu
sorrir e dizer que fujo do óbvio; que me rejeito a ver o que sei; que me
contrario, tendo noção disso. Tola… Tola, tola, tola. Eu… Eu, eu, eu. Não sei
viver se não assim… a questionar-me; com medo de tirar os pés do chão, mas
ansiando voar. Tola, eu sei. Sei demais, aplico de menos.
Tem o teu cheiro, sabes ? Tem o cheiro àquele abraço adormecido
pela noite ou embalado pela tarde que me davas. Costumava pensar que era como o
cheiro da “tua rua”. Era o teu cheiro, mas como era sempre naquele local que o
sentia pela primeira vez, para mim, era o cheiro da tua rua. Sempre que penso
naquela rua, lembro-me daquele cheiro. Engraçado como costumava ficar assustada
por me cheirares, mas lembro-me de uma rua, pelo teu cheiro. Engraçado ou
irónico, já não sei. Já não sei de muito, hoje em dia. Lembro-me de tentar
criar um invólucro impossível de quebrar mas possível de passar; de tentar
planear todos os futuros possíveis; de me tentar preparar; de me tentar manter
de pé afincado … e por momentos, achei que tinha conseguido. Achei mesmo que
seria impossível voltar a sentir silêncio em mim, falta de certezas ou mesmo
sentir-me perdida. Mas não. Acho que não sou tão forte quanto me idealizo, acho
sim, que sou ridícula por me tentar proteger do que não se pode proteger. Mais
cedo ou mais tarde, todos voltamos a cair. É um facto. Por mais que tentemos,
um dia tudo tem um fim. “Nada é constante” - digo eu. Por isso, acho que já nem
tenho medo de cair, porque sei que isso é inevitável, mas tenho medo sim, da
forma como caio. Se parto um braço ou a cabeça. Acho que isso sim, são pontos
vitais. Partir a cabeça pode ter mais consequências do que partir um braço, sem
querer descurar a dor que se sente ao partir um braço. Por isso, ao contrário
do que tu pensas, estou a caminho do hospital a levar um ponto nesta cabeça.
Lembra-te: escolhi-te a cabeça – a parte não racional em mim, mas essencial.
Quando julgas ser uma unha do pé, digo-te eu que és uma parte da cabeça, talvez
aquela onde está alojada a memória, lembras-te caixa verde ? “Lembro-me” – devia de responder o saco do
pão.
Arrependo-me do meu silêncio naquela noite. Não sei se te
devia ter impedido de ir, ou se te devia ter explicado o quanto importante eras
para mim. Não soube falar. Alguém me estava a sufocar as cordas vocais e a
bloquear o meu cérebro. Naquela noite, naquele momento, tinhas razões para me
chamar retardada.
O meu ponto na cabeça, há-de sarar. Espero que os teus sarem
depressa e bem. Olha por elas, por mim, vê se chegam bem da festa e se
continuam a brilhar.
05 de Abril de 2012, 05h e 12min.