quinta-feira, 5 de abril de 2012

confusão literária


    Desde aquele dia que nunca mais vi as estrelas-semáforo, quando olho para o céu. Não sei se sou eu que as evito ou elas a mim. De qualquer forma, vê-las, ia tornar real coisas que , para o momento, prefiro negar como verídicas.  De momento, nem sei se devia estar a escrever sobre a minha falta de visão, ou se devia de estar a escrever sobre coisa alguma, nada me sai como quero e ultimamente o meu esforço para escrever sai pior que uma poça de lama, isto, sem querer descurar a beleza de uma poça de lama. Mas foste tu que me disseste para escrever, mesmo quando as minhas palavras não fazem sentido. E não fazem. Muito menos as minhas ideias. Estou a escrever a cru, com linhas que não as minhas, com pensamentos meus.
    Acho que elas foram a outra festa, sabes ? Talvez, a Plutão, não sei. Não se iam esconder de mim, pois não ? Ou sou eu que não as quero procurar, com medo de as ver ? Não, de certeza que foram a uma festa… Ias tu sorrir e dizer que fujo do óbvio; que me rejeito a ver o que sei; que me contrario, tendo noção disso. Tola… Tola, tola, tola. Eu… Eu, eu, eu. Não sei viver se não assim… a questionar-me; com medo de tirar os pés do chão, mas ansiando voar. Tola, eu sei. Sei demais, aplico de menos.
    Tem o teu cheiro, sabes ? Tem o cheiro àquele abraço adormecido pela noite ou embalado pela tarde que me davas. Costumava pensar que era como o cheiro da “tua rua”. Era o teu cheiro, mas como era sempre naquele local que o sentia pela primeira vez, para mim, era o cheiro da tua rua. Sempre que penso naquela rua, lembro-me daquele cheiro. Engraçado como costumava ficar assustada por me cheirares, mas lembro-me de uma rua, pelo teu cheiro. Engraçado ou irónico, já não sei. Já não sei de muito, hoje em dia. Lembro-me de tentar criar um invólucro impossível de quebrar mas possível de passar; de tentar planear todos os futuros possíveis; de me tentar preparar; de me tentar manter de pé afincado … e por momentos, achei que tinha conseguido. Achei mesmo que seria impossível voltar a sentir silêncio em mim, falta de certezas ou mesmo sentir-me perdida. Mas não. Acho que não sou tão forte quanto me idealizo, acho sim, que sou ridícula por me tentar proteger do que não se pode proteger. Mais cedo ou mais tarde, todos voltamos a cair. É um facto. Por mais que tentemos, um dia tudo tem um fim. “Nada é constante” - digo eu. Por isso, acho que já nem tenho medo de cair, porque sei que isso é inevitável, mas tenho medo sim, da forma como caio. Se parto um braço ou a cabeça. Acho que isso sim, são pontos vitais. Partir a cabeça pode ter mais consequências do que partir um braço, sem querer descurar a dor que se sente ao partir um braço. Por isso, ao contrário do que tu pensas, estou a caminho do hospital a levar um ponto nesta cabeça. Lembra-te: escolhi-te a cabeça – a parte não racional em mim, mas essencial. Quando julgas ser uma unha do pé, digo-te eu que és uma parte da cabeça, talvez aquela onde está alojada a memória, lembras-te caixa verde ?  “Lembro-me” – devia de responder o saco do pão.
    Arrependo-me do meu silêncio naquela noite. Não sei se te devia ter impedido de ir, ou se te devia ter explicado o quanto importante eras para mim. Não soube falar. Alguém me estava a sufocar as cordas vocais e a bloquear o meu cérebro. Naquela noite, naquele momento, tinhas razões para me chamar retardada.
    O meu ponto na cabeça, há-de sarar. Espero que os teus sarem depressa e bem. Olha por elas, por mim, vê se chegam bem da festa e se continuam a brilhar.


05 de Abril de 2012, 05h e 12min.