sábado, 3 de setembro de 2011

paragem de autocarro

   Um dia, porque assim o impulso me deu, sentei-me numa paragem de autocarro vazia e esquecida. Talvez me tenha sentado lá pelas saudades de ter a necessidade de andar de autocarro todos os dias, não sei, mas sentei-me e parei no tempo para observar a banalidade, a evolução, a sociedade que passava diante dos meus olhos.
   Pessoas esquecidas de sentimentos mais nobres corriam dentro de si, mostrando aos observadores um tom apressado. Pessoas perdidas no refúgio da mente davam passos como se fossem lufadas de ar fresco, outras davam como se sentir o chão e reconhecer a vida, fosse doloroso. Pessoas pintadas por amor não andavam, saltavam e cantarolavam enquanto faziam o seu caminho. Pessoas que viam motivos para sorrir em tudo, movimentavam-se com confiança e segurança na terra que pisavam. Havia de tudo um pouco: umas achadas, outras perdidas dentro de si. Mas de todo o tipo, passavam pessoas por aquela paragem adormecida e eu só me limitava a fisgar-lhes a vida pelos passos que davam ou como os davam. E sentia-me bem por poder compreender pelo olhar.
   Sempre tive uma queda para o sentido da visão. Observar as flores a serem beijadas pelo vento, as crianças a mostrarem a inocência da infância nos seus actos, as nuvens a correr o mundo, foram sempre coisas que me deliciaram nesta esfera à qual chamamos Terra. São coisas que falam comigo pelo silêncio e são quase tão únicas como poder ouvir a exaltação dos demais enquanto me perco no céu estrelado que de debate sobre a minha cabeça. Nesse, estrelado ou não, perco-me todos os dias, antes de me deitar. Tenho apenas essa rotina. Antes de o cansaço me ganhar, abro sempre a minha janela, respiro o ar nocturno e olho o "mar do ar", como tanto lhe chamava em pequenina. Depois disso, sei que vou dormir mais aliviada porque, por mais breve que seja esse olhar, faço sempre uma reflexão do meu dia e deparo-me sempre com a mesma conclusão: é bom viver.


   Boa noite.

Sem comentários:

Enviar um comentário